Quando
ris o mundo pára. O meu mundo. O único que conheço. No qual me sentia segura.
Agora duvido. Fraquejo. Hesito. Mas sigo em frente porque algures estás tu e
porque não posso ficar aqui parada quando te possa encontrar.
Quando ris, iluminas a sala por muita
escura esteja a noite. Por muito frio que seja o vazio que nela reina,
rapidamente colorido com a expressão que de ti sai com a força destruidora do
teu sorriso.
Quando ris, apetece-me reter-te assim.
Colar-me a ti e partilhar essa tua alegria. Deixar que a tua música me console
o silêncio de outros momentos, deixar-me inspirar pela forma como seduzes o som
que enche o pouco espaço livre que há entre nós.
Quando me tocas, a lua baila lá em cima tão
perto de nós, revelando o meu rosto perdido em ti, rosto descoberto pelo cabelo
que afastas de modo decidido. E eu sinto que esse toque me anestesia o corpo
que fica preso àquele segundo em que renovamos o olhar.
Quando me abraças, o teu calor contagia-me
a vontade e eu quero sempre mais, perder-me a vaguear pelas horas, no ponto
incerto da nossa própria geografia. Fazemos o nosso esconderijo e lá não sinto
mais nada, deixo a paisagem que nem vejo.
Quando te cansas, procuras o colo para te
reconfortar a exaustão que te dá prazer. Que confessas num descuido leviano e
que logo tentas esconder novamente.
Quando a lua beija o rio num espelho de
prata e a música rola devagar, o teu peito bate à pressa como se fugisse do
olhar quente que deposito na viagem guiada a ti em busca de uma chama, de uma
praia, de uma estrela que possa seguir, mas encontro uma noite no deserto,
pacifica, em profundo silêncio e tão aconchegante que o mundo cessa sem
respirar.
Quando a madrugada nasce, espreguiças o olhar no horizonte e
devolves-me ao meu lado da vida ainda com os dedos no meu cabelo, presos por
fios de seda que te acariciam o peito. Quando do sono desperto acho que me
encontrei algures e que me cruzar contigo será sempre um ponto de partida.
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