Não consigo voltar a ela. As portas fecharam-se no momento em que nos seus olhos baixou uma nuvem de decepção e mágoa e raiva. Não posso voltar a ela, a uma trovoada de dia de verão, forte, com chuva incessante. Raios pelos céus que quebram o calor que se cola à pele, que destabilizam a placidez e levam tudo à frente numa enxurrada de libertação.
Ela não permite segundas hipóteses- Conquista-se a primeira a pulso, com persistência, resistindo às rasteiras e sobrevivendo aos golpes, até ela permitir desmantelar as estratégias de defesa numa brecha de confiança. Irrompe, então, uma entrega intensa, uma dádiva de desejo e cumplicidade, de proximidade e conforto. Como um dia nos Açores, ora pleno de sol, ora onde se abate a tempestade, ora no mais pacifico silencio verde, ora na batalha das ondas atlânticas.
Quando puxei o tapete, ela não caiu. Não perdeu o equilíbrio e, apesar do suave balouçar, manteve-se firme, olhar gélido, transmutado. Prova de alguém que já abanou tantas vezes sob o vento ríspido que já não soçobra. Treme mas sobrevive. Deixa-se, apenas, perder poucos dos créditos que ainda tinha nos outros. Reforça as paredes da muralha e cerca-se sobre si própria. Mostra o desapego em sua glória e fúria.
Naquela praia, não há regresso.
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