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Do arrebatamento



O vestido caiu facilmente. Estava apenas preso pelas alças nos ombros magros e deslizou com vontade declarada pelo corpo, até ao chão, enquanto ela acendia uma única luz de presença.


Beijou-lhe o ventre. Sentiu-o a tremer. Antecipação. Expectativa. Sentia-lhe o calor sem sequer tocar. Era como uma fonte inesgotável de desejo prestes a desmoronar-se com um toque. Os dedos enfiaram-se entre a pele e a linha das cuecas de renda fazendo-as sair com mestria. Estava liberta, da máscara de tecidos, não das demais camadas de protecção. Tal não a impedia de arfar baixinho e com satisfação sob um rosto que perdia vergonha a cada caída da cabeça para trás.



Nua, encostada à parede fria, costas arqueadas, totalmente exposta viu-a a desmontar-se com cuidado ao primeiro beijo que se colou à boca como dali não houvera saída. Era intenso, forte, penetrante o modo como ela o arrastava para si com a língua e uma perna em torno da cintura.



Todo aquele momento era primário, selvagem, sem travões ainda que, em simultâneo, pleno de uma beleza que nunca experimentara. A total entrega dela ao prazer, sem pudor, com exigência e fervor, o suor que lhe baixava devagar entre o peito, os suspiros em cada investida, os sorrisos espontâneos quando as ancas roçavam; e ela, ela de olhos fechados com milhares de pensamentos a soltar-se ainda que focada nele e na ocupação ele que lhe fizera.



Estava por todo lado. Mãos que tocavam qual teclas de piano e descobriam recantos que eram nova musicalidade. Língua que arrefecia e aquecia sem dar conta de como ganhara algum controlo sobre aquele indomável arrebatamento que se tinha apoderado dela. De ambos. 


Nunca pensara tê-la assim. Tão sensível à conexão, tão fácil de mostrar loucura e desinibições e gritos, sem nunca deixar de pautar o ritmo. E de ser ela como ela sempre é. Tão perto de alcançar mas nunca agarrável, quase submissa mas sempre a manobrar.


Era encantamento. Era coração disparado. Era pensar nela e ter vontade de pegar no telemóvel. De a ver sorrir. De a observar a manear a cabeça distraída, o cabelo bailar com naturalidade e o desejo crescer de imediato. Era acordar com saudades da voz dela. Eram ciúmes de a saber com outros. Era aquela expressão densa, poderosa, única, desafiadora que o perfurava quando orgasmo o atacou sem piedade.

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