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Do acordar para a realidade



Perguntam como posso ser tão descrente. Questiono-me como pode alguém ainda acreditar, pelo menos de forma segura e inequívoca. Intrínseca.

É uma roleta russa. Não é por querermos muito, por nos acharmos dignos, ou pela ilusão de que todos estamos destinados. Nada está garantido. O que subsiste pode sobreviver apenas à luz da acomodação e do hábito. Onde reina o nada não há uma verdadeira lei que dite que tem que passar a existir algo.

Não há poções, não há alquimia, não há combustão secreta. Não há trovões que rasgam os céus e despejam a resposta no chão molhado, gasto.

Quem dita que somos mais por sermos com outro? Qualquer pessoa ou momento nos aporta riqueza e valor acrescido mas a obsessão por não estar só é uma patologia social que deixamos que os outros nos impinjam e nos façam sentir manipulados com charme suave, cercados pela comiseração, pela necessidade, convictos que estamos a falhar mas de longe ser culpa nossa. Ainda que...

Desaprendemos o valor do silêncio, da capacidade de esvaziar a mente, de não pensar em nada, de do “eu” ter muita força logo ser uma entidade muito mais forte e interessante só por si. 

O lucro da autenticidade passa pelo caminho pessoal da descoberta. E é preferível uma jornada voraz, em que tudo se questiona e há espaço para assumir as nossas paixões, devaneios, pausas, do que uma viagem em prol de alguém que não nos lê nem anda ao mesmo ritmo.

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