Avançar para o conteúdo principal

Stuck In Reverse

Passam os dias em vazio, sucedem-se as noites de insónia. 

O sofá tornou-se o redentor dos cansaços repetidos. 

Custa tanto despertar pela manhã, com poucas horas de sono acumuladas na mente, atordoada pelo excesso de palavras consumidas dos livros. Procuro distracções, uma forma de escapar. Ouço música durante a madrugada, quase sempre os mesmos sons que me recordam outros tempos, outros apoios.

Sinto-me só. Mesmo no metro a abarrotar de anónimos ou no restaurante cheio de conhecidos. Sinto-me sempre tão desamparada. Se eu cair, alguém me ajudará mas não não será suficiente, vou ao chão à mesma. Se faz sol, estou na sombra. Se chover, andarei molhada sem que ninguém me ofereça protecção.

Já não sou a mesma pessoa que um dia fui. Foi como uma doença que me fui minando as estruturas. Não dei por ela. Ninguém percebeu os sintomas. O amor de outrem deixou-me de envolver, passei a vivê-lo, como tudo o resto, de modo distanciado. Queria manter-me presa aos odores, ao carinho do toque, à naturalidade do bem-estar, mas sinto os afectos ao longe, fugidios.

Alienei uma vivência, cada vez mais sinto que a minha estatura é menor e insignificante perante os outros, melhores que eu, mais seguros que eu, mais interessantes que eu, mais vivos que eu. 

Como uma droga que mata o universo de referências à parte dos seus efeitos, perdi sentido de pertença, perdi  sentido de mim. E cada vez mais, puxar-me para o centro é difícil, doloroso para quem tenta, frustrante para mim, afastando-me ainda mais para subúrbios emocionais. 

Estou só. Consciente dessa solidão. E sem esperanças de recuperar a capacidade de entrega. 

Comentários

Anónimo disse…
Espero que isto seja escrita de ficção...
Bjs X
Joana Menano disse…
Mónica... Tens a certeza que és AQUÁRIO??
O texto está fantástico, mas fiquei com a nítida sensação de que precisas de uma boa conversa e de sair desse vazio em que te encontras e em que, uma pessoa inteligente como tu, não pode estar mergulhada!! Tens que arrumar de vez o passado e gozar o presente para que tenhas um futuro lindo pela frente! Tens que mostrar a tua força, sorrir para a vida, porque só assim, a vida sorrirá para ti e te mostrará novos caminhos!!
Desculpa esta conversa "fiada", mas depois de te ler... apeteceu-me!
Qualquer coisa, podes falar-me, a sério!! :)
Bjinhos!!

Mensagens populares deste blogue

I used to love it...

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.

Ally Mcbeal, biches!

Deve ser do calor. Certamente. Assim de repente, não estou a ver como se explica o meu nível de intolerância ASSASSINO.  É segunda feira, passei o fim de semana a dormir ao som da ventoinha, escapei-me à onda de calor entre muito sono e dores de cabeça, mas à segunda feira as coisas compõem-se, há um regresso da penumbra à civilização, e a coisa vai.  Mas há pessoas que me tiram do sério. Por muita boa vontade que eu possa querer ter, por muita compreensão que estes tempos estranhos nos exigem porque todos enfrentam momentos complexos nas suas esferas pessoais, por muito que entenda que o cabrão do Mercúrio está retrógrado, é pá, não dá. Há limites!  Há "gente" cuja soberba, vaidade, vontade de se mostrar e de se armar na puta da desgraçadinha da Cinderela me põe louca. Põem-se em bicos de pés para estarem sempre visíveis qual estrela de TV, rádio e revista  mas depois é tudo um drama, a quinta essência da vitima sofredora. Todo um  reality show ...