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Um dia




Um dia estávamos deitados num jardim, numa tarde fria de muito sol, de mãos dadas e calados. Folhas de inverno suportavam a nossa proximidade. E ali residia um dia de felicidade. Sentia tremenda exaltação que atirei para o recycle bin emocional a sensação de fractura prestes a acontecer.

E devia ser assim que continuávamos. Pelo meio das tormentas e do céu azul. Dos ajustes conscientes, da intensidade tornada suave, da paixão que rompia a pele em cada investida dos corpos, arrebatados e suados. Desejo que não cessava. A descoberta do outro. O hábito do outro sem rotina.

Mas nenhum amor dura para sempre. Há os que sobrevivem ao desgaste do tempo e solidificam em algo muito maior, uma ternura que se cruza com a proximidade dos anos. Há os que morrem por si de modo simples e singular, quase ameno mesmo que com a nostalgia do que se perde. Há os que se interrompem com brutalidade e a dureza de uma pancada inesperada, uma insónia sem fim, a falta de ar num ataque de ansiedade.


Desligaste-o da corrente sem avisar. Abateu-se o inverno frio ainda que sob um céu cor imensa. A dor esmaga, pode corroer, amachuca mas não abate.

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