Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência. O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas. A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade. A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.
Mas parte do problema, é qualquer coisa dentro disto. É a ausência do que não se vê, do que não se consegue descrever, uma espécie de força sem traço definido, sem matéria palpável, sem sinónimo no dicionário, sem cor no arco iris, um silêncio que eu ouço de modo único, uma mão que não nos deixa cair sem que a sintamos... Compreendo que menosprezem, para minha protecção. Compreendo que eu não seja compreensivel. Mas é forte. Sente-se. Rasga.
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