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Sol e outras cenas

Muito recentemente, tive um dia complicado e partilhei a situação com (poucas) pessoas que me eram próximas. Para aliviar a "coisa", não ser um drama negro, até comentei, como piada, que nem água tinha em casa para beber.

Às 10 da noite apareceu-me uma amiga com um garrafão (de água, note-se!), iogurtes, cereais e um abraço. Dias depois, outra trouxe-me almoço e lambrusco. Um outro amigo tem sido incansável em ajudar-me no que necessito. De urgência liguei para uns amigos que deram mil voltas mas arranjaram-me um carro, entre a natação dos miúdos e o almoço de família.

Não sou pessoa de falar das minhas coisas. E até gosto de ficar no meu canto. Mas se precisam de mim, sou gaja para apoiar da forma que possa. Nunca namorado, planos, nem as minhas adoradas horas de sono seriam prioridade perante um amigo com problemas. É naquele momento que a pessoa precisa não quando a agenda está conveniente.

Lição nr. 1: nunca ter uma chatice em época de sol. As poucas pessoas a quem possas confidenciar e ter alguma expectativa de retorno vão para praia, para a esplanada, calhando têm máquinas de roupa para lavar e secar e, portanto, azar.

Imagino que de inverno invoquem o frio e a chuva para não lhes ser possível dar algum amparo. Nem que seja via mensagem.

Lição nr. 2: há sempre "outros". Os/as namorados/as ou cônjuges com os quais já há planos e dos quais não pode haver 1 hora de separação. Os outros amigos com quem se combinou brunch, cinema, bowling, brincar com as crianças desses amigos e, por tal, o ócio tem mais importância que dar apoio "to a friend in distress". Há os almoços com os sogros, os lanches com os primos, impossível de falhar uma semana que seja.

Convenhamos, dá muito trabalho gerir vida social em multitasking quando ainda por cima se incorpora à equação variáveis menos felizes, neste caso alguém (supostamente alguém de quem se gosta e se tem estima) com um problema.


Lição nr. 3: há aqueles que simplesmente ignoram a situação e nem uma sms "estás bem?" enviam. Receio de que possa advir trabalho desse gesto?

Grande lição: mesmo uma pessoa que exige pouca manutenção, pois perante cenas maradas, hiberna e faz voto de silêncio, depreende que esta história dos amigos é um mito urbano.

Eles existem, de facto, mas são em muito menor numero, intensidade e profundidade do que pensamos, além de que a dimensão humana é pró' fraquita. Num país tão pouco produtivo e falido é extraordinário como as pessoas têm sempre tanto para fazer. Com outros.

O problema deve ser meu. Seguramente. Falta-me glamour para ser uma companhia interessante. Deve ser isso.

Comentários

Mónica disse…
Cara Palmioer: faz a sua parte diariamente
Um bjo.
Com muito estilo
Monica
Deia disse…
este blogue tem um excelente sentido de humor!! fantastico!!! :D sou seguidora ja!
Mónica disse…
Obrigada! Seja bem-vinda!
Mnc

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