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Croiassants, baguettes e coisas sérias

Nao simpatizo com França, para dizê-lo de forma diplomática, digamos.
E não gosto de Renaults (tenho a teoria de quem conduz um, é 10 vezes mais propenso a ser aselha ao volante e o meu método estatisitico é bastante credivel em termos de amostra)*.
Quando comecei a ouvir / ler sobre os suicidios na Renault até brinquei com o tema: eram pessoas duplamente infelizes - não só eram franceses como trabalhavam na Renault.
Mas estava a escapar-me a big picture. E a história é pior que um filme noir francês.
Segundo um artigo da Visão, desta semana, a vaga de suicidios que assolou em maior escala a France Telecom (nos ultimos meses, 24 suicidios) deve-se à cultura de «Gestão terrorista» que esta(s) empresa(s) encetou numa lógica de redução de quadros. Quando já não havia dinheiro para pagar as indemnizações de saída, passou-se á fase do que se chama mobbing: estratégias de humilhação, assédio moral, pressão psicológica e perseguição aos colaboradores.
No artigo questiona-se se estas acções, destinadas a forçar a que pessoa se despeça por sua opção, em contexto de crise e de baixa falta de oportunidades no mercado, seriam suficientes para que as pessoas se matem. A resposta é algo à advogado: depende... da pessoa e da sua capacidade para aguentar a degradação psicológica.
Não vou discutir a questão "suicidio" porque cada um tem direito a acabar a sua vida quando quer e se se chega a um ponto em que só apetece desistir, é de facto triste, porque há coisas boas na vida, mas entendo que se atinjam momentos de "já chega".
O que me preocupa é a violencia intrinseca a que as organizações chegam para atingir os seus fins. Ora, as organizações são feitas por pessoas e geridas por pessoas portanto a "maldade" está nas pessoas. Entendo as estratégias de racionalização de custos, de melhoria da eficiência, da mobilização do grupo em prol do aumento da produtividade e, inclusivemente, da redução de pessoal.
Mas acho inaceitável que sejam premiados gestores com chorudos bonus e salários cuja finalidade é infligir, em prol do accionista, uma violência psicológica continuada aos que diariamente fazem o seu trabalho. Se estes colaboradores não eram bons (o tipico passar de bestial a besta é um fenomeno clássico), tivessem então sido despedidos antes (é para isso que existe uma ferramente de RH chamada "despedimento" tão válida como outra qualquer). E se as companhias, em momento de vacas gordas, não esbanjassem de forma algo displicente os dividendos (e sabemos que isso acontece "n" vezes... mais uma vez, as empresas são geridas por pessoas...), talvez em momentos de aperto não tivessem que ser tão agressivas.
O que está em causa é como estes agressores dormem à noite. Um custo elimina-se. Nao se esfrangalha sem dignidade. Que espécie de sociopatas atingem lugares de poder sem que ninguém os trave? E porque não há mais pessoas a travá-los (seja em França ou na Roménia ou nos EUA ou em Portugal)? A queixar-se, a armar o barraco?
Porque isso implica dar parte fraca e passar pelo "mau da vitima" (alguém que visa em proveito proprio aproveitar-se da empresa que lhe deu tanto...) e, ainda, potencialmente sofrer mais represálias futuras.
Mas se estes gajos(as) / chefias, comecassem a levar nas trombas no dia em que pisam o risco e começam a abusar, talvez o proximo sacana pensassse 2 vezes em vez de humilhar e dar cabo dos nervos de uma pessoa.
Não faço a apologia da violencia mas asseguro convictamente que a força da "tareia" psicologica é 100 vezes mais intensa, profunda e dolorosa que um belo pontapé na boca de um "chefe mete nojo".
E já agora, onde andam os RH da France Telecom? A encher chouriços e a processar salários? E outras pessoas de outras empresas que estão na mesma situação mas que estão na total obscuridão porque ninguem se matou em catadupa?


E onde está a motivação das pessoas, essencial ao bom desempenho e a uma performance de excelencia, sobretudo quando eles são mais necessários?

E onde está o principio básido do respeito pelos outros? O Madoff roubou, enganou e foi com os costados 150 anos para uma cadeia... Esta raça de FdP anda à solta e têm na sua base uma patologia clinica grave.

Porque ninguém de "bem" faz estas merdas, por muitas medidas correctivas que tenham que se fazer para o bem da companhia. E a saude de uma empresa nao se constrói assim, à lei do chicote e do desprezo pelo bem estar dos colaboradores, como se estes fossem fantoches ao sabor da corrente. Só pessoas (muitissimo) limitadas não o entendem.

Oferecem-se alvissaras a quem parta as pernas ao Didier Lombard (presidente executivo da France Telecom) que inicialmente ainda se deu ao luxo de fazer piadas sobre o caso. Ou que lhe risquem o carro. Que espero sinceramente que seja um Renault!






* Salvo 2 execpçoes: Pajó e Santos

Comentários

LN disse…
Obrigado pela reflexão dos condutores Renault!

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