Quem inventou os saltos altos merecia encontrar o Raul Meireles numa rua escura, isolada, pela noite dentro.
Estou que não posso! E nem sequer me atirei para fora de pé na calçada portuguesa. Louca, mas não tanto. Mas bastou-me. Malditos peeptoes que me arrasaram pés, coluna, pernas, autoestima.
Amanhã voltamos às ballerinas e até final da semana ora Keds ora All Stars. De facto, não nasci para ser sofisticada e levar 20 minutos, em dor, para fazer um percurso de 5 meros minutos.
Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência. O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas. A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade. A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.
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