Avançar para o conteúdo principal

são dias estranhos


Outro dia estava a ouvir num seminário motivacional que a loucura, nos dias que correm, é salutar e bem-vinda como força anímica para nos fazer aguentar estar onda depressiva que assola o país. 

Mercúrio anda retrógrado dizem os entendidos. Deve ser. Só pode ser. 

Hoje li umas declarações, a titulo informal, ou de registo pessoal, de uma pessoa que costuma comentar temas políticos nos media, e o desabafo era: isto em menos de um ano vai dar merda da grossa. Vai ser a derrocada, a decadência, bom, o colapso total. E nem sequer era em tom demagógico ou catastrófico; era uma assumpção de um facto - é assim que vai ser. 

Preparemo-nos: o nosso mundo (não daqueles que associados aos grupos de interesse que estão a beneficiar com terem conseguido eleger um testa de ferra - Relvas - e um bom 2ª linha, Passos Coelho; mas o do comum dos mortais) está em mudança drástica mas vai evoluir, e rapidamente, para a hecatombe. Eu ouço, amiúde, esta pessoa opinar e apesar dos receios que já partilhou perante os riscos de médio prazo, inerentes à tomada de determinadas decisões governamentais, nunca publicamente assumiu um postura tão derrotista de take shelter.


Surpreende? Não. Não temos nem governo nem lideres políticos à altura do que desafio que temos pela frente e, pior, o caminho tem sido tão desastroso que a tendência é mesmo afundar. 

Por um lado, o espirito que nos obriga a manter a lucidez e a levantar todos os dias para continuar a levar para frente faz uma espécie de denial. Ou isso, ou tudo perde de facto sentido e mais vale ou fazer a trouxa ou ficar na cama a olhar para o tecto à espera do fim. Por outro lado, a nossa cultura sebastiânica faz muitos acreditar que ainda virá alguém in extremis salvar a coisa e vamos voltar num instantinho aos plasmas, às viagens, à carrinha Laguna para uma família de 3. Uhm... receio que não!

Gerir o dia a dia neste contexto, por muita boa disposição que se tenha, custa. 

Há sempre qualquer coisa que faz curto circuito, sejam: 

- os rumores que no pós eleições americanas, a divida publica dos EUA vai estourar e vai ser o descalabro; 

- o caso de alguém que se conhece que precisa de fazer tratamento médico grave e encontra entraves (depois de saber que um amigo com cancro, andou às bolandas entre o IPO - que lhe recusou tratamento pelos custos - e o Hospital da sua área de residência, onde obrigaram a fazer todo o processo de identificação da doença, que já havia sido feito num hospital privado, adiando o inicio do tratamento durante 6 meses, e muitas vezes chegava às sessões e vinha para casa porque não havia medicação... bem, apesar de ter seguro de saúde da empresa, mantive o seguro que já tinha!); 

- os juízes a queixar-se que se ganham pouco poderão ser corruptos (quão baixo se pode ser?);

- as histórias de abandonos de animais, aceleradas pelos cortes orçamentais domésticos e com rituais de malvadez; 

- a podre história da não licenciatura do Relvas, insultuosa até mais não, mas que não abana, não afecta, nada aquele couraça pestilenta; 

- as lojas que conhecemos há anos, que num dia encerram e mais uns quantos vão para a incógnita fila do centro de emprego; 

- os fornecedores que (quiçá esmagados pela redução do numero de pessoas nas suas estruturas - ?!) não conseguem dar resposta às solicitações nem em tempo útil nem nas fronteiras do bom senso, obrigando a um esforço grande em termos laborais para negociar internamente novos prazos e lidar com o que é, de facto, a ineficiência que grassa no país.  


E os "acidentes" da vida, aqueles que podem acontecer a qualquer momento, ganham proporções disruptivas nos dias pesados que vivemos. Sejam as doenças, as separações, as mudanças de país, as novas relações, uma gravidez inesperada. Tudo é vivido com emoções ainda mais complexas do que o costume. 

E o desgaste é grande. Entre manter a sanidade com o grau de loucura recomendável, não esmorecer perante os golpes, não perder o pé, não acumular fúria ao ponto do assassinato e ainda rir para espantar os espíritos negativos, há um cansaço acumulado e uma descrença global contra os quais se torna muito difícil lutar com animo. 

Como vai ser?




Comentários

Mensagens populares deste blogue

a importancia do perfume e a duvida existencial do mês

Olá a todos advogo há bastante tempo que colocar perfume exalta a alma; põe-nos bem dispostos e eleva-nos o bom espírito. Há semelhança do relógio e dos óculos de sol, nunca saio de casa sem perfume, colocado consoante a minha disposição, a roupa que visto e o tempo que está. Podem rir-se à vontadinha (me da igual) mas a verdade é que sair de casa sem o perfume (tal como sucedeu hoje) é sempre sinal de sarilhos. nem mesmo umas baforadas à socapa no táxi via uma amostra que tinha na mala (caguei para o taxista) me sossegaram, ate pq não era do perfume que queria usar hoje. E agora voltamos à 2ª parte do Assunto deste email: duvida existencial do mês Porque é que nunca ninguém entrou numa loja do cidadão aos tiros, tipo columbine, totalmente alucinado dos reais cornos? É porque juro que dá imensa vontade. Eu própria me passou pela cabeça mas com a minha jeiteira acabaria por acertar de imediato em mim pp antes de interromper qq coisa ou sequer darem por mim. lembram-se de como era possív

Do acosso

Este calor que se abateu com uma força agressiva consome qualquer resistência.  O suor clandestino esbate vergonha e combate qual sabre as dúvidas.  A noite feita à medida de libertinos cancela as vozes interiores que alertam para mais uma queda dolorosa. A brisa quente atordoa, embriaga no contacto com a pele. O tempo pára, as palavras suspendem entre olhares que sustentam no ar tórrido toda a narrativa; qual pornografia sem mácula, mas plena de pecado. A lua cheia transborda e dá luz à ausência de sanidade que percorre no corpo. Tudo parece possível, uma corrente de liberdade atravessa-nos com o sabor do quente esmagado. E, mesmo assim, pulsa algo mais intenso. Mais derradeiro. Mais dominador. Mais perverso que o toque dos dedos. Mais agressivo que a temperatura irrespirável. O freio da impossibilidade.  A intuição luta com o medo e na arena o medo mesmo que picado tem sempre muita força. O medo acossa-nos.

Os lambe-cus (MEC)

Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso   "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun