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Da cicatriz devassa




O oráculo concluiu que cicatrizo rápido, que recupero célere das mazelas, com capacidade de regeneração qual heroína de filme. Reconstruo a máquina como se não houvera sofrido danos e sigo em frente, levando por arrasto o que haja no caminho.

Essa disponibilidade da derme, do corpo, da alma, em sarar será a razão pela qual sempre que te vejo, acedo. Sempre que te acercas e derrapas os dedos ao de leve pela nuca e pela espinha, atiro o pescoço para trás, fecho os olhos e deixo, sem duvidas, que me dispas. A roupa e a força.

E começa o jogo. A dança. A batalha. A estratégia. A nudez completa versus o ritmo lento. A intimidade total revelada sob os teus lábios, o não querer dizimado pelas minhas pernas que te prendem a mim e nos embalam sem palavras. Sem amor. Olhos nos olhos, pacto de luxúria e suor, costas arranhadas, ombros mordidos para calar quando estão a vir os gemidos.


O tempo passa contigo em mim. Sem cerimónias, ambos vitoriosos pelo que damos e pelo que recebemos. Tanto, êxtase frenético, espiral sem limites. Movimentos eróticos que não pedem licença nem perdão. Não há nada que nos absolva desta devassidão que nos assoma.

Apenas querer, mais e mais, como se fosse sempre uma nova exploração quando não há recanto do meu corpo, do teu corpo, que não seja já território conhecido, dominado, apropriado.

Só a exaustão nos vence. A luz do dia já ameaça quando saio, cabelo despenteado, sem escova possível que o dome, rosto impenetrável como se nada houvera passado, pulsação acelerada.


Ferida aberta começava a cicatrizar.

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