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Da firmeza em nós



Em algum dia tinha que estourar. Esticamos tanto a paciência, a espera, os limites da tolerância pelo que nos dão, pelo que nos sonegam, pelas meias respostas, pelos silêncios, pelos entusiasmos renovados seguidos por abruptos “já era”, pelas indecisões, pelas palavras sem conteúdo.


No fundo, exaustos pelas promessas dos anúncios, dos livros, dos amigos, das infinitas possibilidades à disposição de um click. E nada, de facto, verdadeiramente revelador, substancial, honesto, genuíno, se desenrola.

Tudo continua no seu ritmo de peças que não encaixam, de jogos que temos que jogar, de aparências para não mostrar entusiasmo inusitado, ou distância que não revele que também caçamos, ou um sinal de putativa carência que possa ser a queda do arame.

Num dado momento, já não podemos ser o garante de tudo e todos. Assumir o nosso egoísmo é somente a sequela. Firmar o pé, com total segurança. Basta de apenas receber quando é oportuno aos outros. De termos que dar vários passos atrás para que de repente a nossa presença seja alvo de saudades.

Os nossos limites vão-se desgastando. 

Não apagamos as dúvidas mas ganhamos certezas de que o tempo é valioso, é nosso e não o podemos esbanjar com oportunidades que sabemos de antemão são perdidas. Navegar no vago não tem propósito, excepto enganar-nos. E dar-nos algum conforto, esperança, ainda que saibamos que é ténue, frágil. Então, rasguemos os panos e assumamos que somos (muito) mais e mais fortes quando estamos numa paz tranquila, natural, rica, com os que nos rodeiam. E connosco.

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