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Do ser eu




Não és tu.
Sou eu. Sinto as coisas sem as sentir de verdade. A minha essência é um modo estranho de distanciamento, de olhar através das pessoas e continuar a olhar para lá. Os meus olhos não pousam em ninguém, seguem em diante acumulando vidas, dor, histórias, dúvidas alheias, numa sucessão de miradas apenas em perspectiva.

Não és tu.
Sou eu. Convive em mim a risada solta com o cepticismo. Sarcasmo e desdém como peças de roupa preferenciais. Acreditar em pouco, em nada. O tempo passa e acreditar torna-se menos uma opção. As cenas repetem-se e dar de nós, emoção, intenção, afecto, já não é uma ação nem uma consequência. É inconcebível.

Não és tu.
Sou eu. Não vejo as coisas em branco e preto, acredito que há tanto mais de miscelânea quanto possibilidades de as zonas se cruzarem mas há cenários que estão desenhados como óbvios na minha mente. Imediatez do querer e o arriscar são naturais. Os “ses” toldam o caminho. Sinais de incerteza e indecisão são descartados com velocidade apurada de quem se defende acima de tudo.

Não és tu.
Sou eu. Tenho pressa. Raiva. Ferocidade. Ímpeto. Silêncios. Vazio. Força. Inquietude. Sem chão.

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