Um dia percebes que já não te levarão a Paris, só porque sim, para um fim de semana de borboletas no estômago a ignorar franceses; ou a Londres, para passeios sob o frio e compras. Que não receberás flores ao fim de um dia cansativo só para te sentires amada, ou numa manha de sábado para que as peónias te iluminem o fim de semana. Que ninguém te organizará uma festa de aniversario surpresa porque ninguém gosta de facto assim tanto de ti, independentemente das palavras vazias e soltas. Ninguém te dará uma jóia por mais simples que seja, como umas pérolas, ou um acessório inesquecível, sob as estrelas mágicas natalícias. Não saborearás amêijoas num domingo solarengo numa esplanada de praia. Não acordarás numa cama de hotel, com vista sobre a cidade e o Tejo, em paz e em modo OFF. Que não verás o por de sol na Comporta. Um dia, ganhamos consciência que nenhum Rhett Buttler nos amará ao ponto de nos comprar um closet cheio de roupa. Não é que não soubéssemos, mas vivíamos em "denial". Não virá o Rhett. Chama-se a isto, "face the brutal facts". Ou envelhecer. Ou viver com a vida que se tem.
Os Lambe Cus, by Miguel Esteves Cardoso "Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá- los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alun...
Comentários
Todos os que ainda te damos, as singelas palavras e gestos de carinho, é porque de facto gostamos de ti, mesmo que nunca tenhamos suficiente glamour/estilo/elan para te satisfazer. Gostamos e resistimos. Da nossa maneira, gerindo a frustração que causas em nós por não chegar ao que almejas, continuamos a querer dar-te sorrisos, carinho, surpresas.
Somos medíocres? Não, mas também gostamos de café que não seja o Starbucks.
Depois de amar um seixo de praia conseguimos dar um diamante, mas amar verdadeiramente o gesto que de dar.