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Do vento quente



Caía um vento quente à medida que a praia se esvaziava por completo e o sol se distendia no horizonte. Era uma brisa leve, sensual, inebriante como erva suave, cada passa a abrir os sentidos em todas as direcções. 

Ela cerrou os olhos e arrepiou-se. De desejo. Das memórias que percorreram em catadupa a espinha. A mente viajou para um momento em que esteve, despida de resistências e força, plena de abandono e total consolo nele. 

Onde estaria ele agora? Ele e a sua determinação em retê-la nos seus braços. Ele e o apetite voraz pela boca dela. Ele e os sonos demorados, com respirações em uníssono. 

Ele que estará agora noutro corpo, a deixar-se ser amado por outro alguém, a ser-lhe impossível conceber não enviar uma sms matinal de "bom dia" que revela um "quanto te quero". Ele que olhou para uma outra pessoa e soube; soube que era ali que ancorava o coração.


Não deixava de ser tão quente o vento,  tão marcante a recordação das suas palavras; era um balouçar sem rumo. 

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